Helena Corazza
Um dos grandes desafios da Igreja Católica no Brasil hoje é acolher bem os fiéis para que eles possam se sentir integrados às comunidades paroquiais e se engajar em algum trabalho. Muitos se queixam da frieza de padres e secretários(as) paroquiais. Há estudiosos que acreditam que o acolhimento seja um dos fatores que leva algumas pessoas a buscarem abrigo em Igreja evangélica. Para orientar melhor esse trabalho, a jornalista, integrante da equipe de reflexão do setor de comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), escritora e religiosa, Helena Corazza, lançou o livro “Acolher é comunicar – como trabalhar com o ministério da Acolhida”, (Paulinas)
1. O que é uma boa acolhida?
Uma boa acolhida, na verdade, é uma atitude. Não são técnicas, não é só organizar para que tudo esteja certinho. É também isso, mas é sobretudo uma atitude das pessoas que acolhem. Nesse sentido, coloco uma boa acolhida como uma atitude constante de abertura ao outro.
2. Quais as principais falhas na área da acolhida na Igreja Católica no Brasil?
Acolhida ainda é um problema, porque existe um contexto todo diferenciado no mundo de hoje. O que nos desafia na questão acolhida atualmente são as mudanças sociais, políticas, econômicas, a mobilidade social, a migração. Então, a Igreja tem que se reposicionar em relação a uma série de coisas. Há um contexto que desafia, sobretudo a Igreja católica, que sempre teve seu público muito certo, muito previsto, muito ensinado, e que hoje não responde mais como respondia antigamente. Mudaram muito as situações e, agora, as pessoas têm muitas opções de religião, até de forma de atendimento, de lazer e de tantas outras coisas. Essas mudanças é que acabam “criando um problema” que, na minha opinião, é também uma grande oportunidade para a Igreja.
Nós, da Igreja Católica, temos que nos reformular para que as pessoas que pertencem a ela, que foram batizadas, mas que se afastaram da prática religiosa possam ser reintegradas. O problema talvez seja a falta de sensibilidade e de agilidade para mudar as estratégias do nosso atendimento nas igrejas. De repente nos acomodamos num sistema, num método, num jeito e achamos que todo mundo tem que se adaptar a ele, porque essa é a prescrição da igreja. Para o mundo de hoje, moderno e pós-moderno, as pessoas não se movem por isso, ao menos que tenham uma fé realmente sólida. Mas o problema não são os que participam, que têm uma fé sólida, o problema são aqueles que, às vezes, estão mais fragilizados. Na verdade, o grande problema talvez seja a gente tomar consciência, mudar nossas estratégias e adaptá-las de acordo com uma realidade que realmente satisfaça as pessoas, para que elas se sintam cativadas, atraídas para estar, com alegria e com prazer, na Igreja.
3. A questão da acolhida mal feita pode ter contribuído para a redução do número de católicos no Brasil?
Penso que sim. Há uma pesquisa nesse sentido que sempre me disseram que foi feita pelo Regional Sul, em São Paulo – mas eu não consegui obtê-la até hoje, em preparação para as Diretrizes da CNBB, no final dos anos 80 e início de 90. Essa pesquisa, na verdade, resultou em uma tomada de consciência, porque até então pensava-se que as pessoas saíam da Igreja Católica por causa da influência da mídia. É aquele chavão que todo mundo diz: “ouviu a rádio tal, ouviu a televisão tal e foi para lá”. Depois foi constatado que isso se dava por falta de acolhida na Igreja Católica. Tanto que as diretrizes, de 1991 a 1994, colocam essa questão de maneira muito forte. Realmente as pessoas se afastaram por causa da acolhida. Mas a Igreja Católica está consciente disso há mais de dez anos e já colocou o problema nas suas diretrizes, no sentido de que seja feito um trabalho para que isso seja modificado.
4. Foram tomadas providências concretas para mudar essa situação?
Há muitas providências que têm sido tomadas. Por exemplo, há uma tomada de consciência muito grande na Igreja, em todos os níveis. Há muitas dioceses fazendo cursos e preparando lideranças para a acolhida. As Diretrizes da CNBB retornaram a questão. Penso que estamos tomando providências, mas a gente tem que ser mais efetivo em todos os níveis. Tanto que vemos a colhida não tanto como uma pastoral, mas como ministério, no sentido de que cada cristão tem que se acolhedor; porque a acolhida não se dá na porta da igreja. Ela se dá em todos os sacramentos, em todos os contatos. Muitas vezes uma acolhida pode ser no ambiente de trabalho, na rua, onde houver uma pessoa precisando. Hoje o coração que acolhe, para mim, é como aquele primeiro sinal. Porque a acolhida é um testemunho, é aquele primeiro cativar. Não há um momento certo para uma pessoa ser cativada. Se a gente tem presença de espírito, se está despertado, todo mundo serve para se acolher.
5. O resultado desse trabalho junto aos fiéis ainda vai demorar a aparecer?
Não tenho tanto conhecimento de resultados. Porque a gente às vezes semeia, semeia e não toma conhecimento da colheita. As próprias igrejas deverão avaliar e observar. Quer dizer, que há várias maneiras de acolher. Desde as visitas, o contato. O lugar onde a gente pensa é a Igreja, mas não é só lá, é indo ao encontro das pessoas. Em todos os momentos podemos cativar as pessoas.
6. Seria necessário fazer-se uma mudança cultual?
Sempre tem aquela coisa de se sentir bem. Acho que, de repente, nós, na Igreja Católica, trabalhamos muito a questão da doutrina, da razão por muitos anos. Não foi só a Igreja, foi toda uma cultura. O pensamento de que era preciso mudar, assumir uma obrigação. Na sociedade atual, as pessoas já não se movem tanto pelo dever, mas pelo prazer, pelo prazer de estarem juntas. Então as nossas igrejas precisariam ser esse espaço que as pessoas gostam e têm prazer de estar.
Há mais de dez anos que estou muito sensível a esta questão da acolhida. Fiz uma frase olhando para como Jesus acolhia as pessoas do seu tempo, porque naquele tempo também necessária uma boa acolhida, sobretudo para os mais afastados. A frase é assim: o humano é a porta de entrada para Deus. Sempre que uma pessoa tem um gesto humanitário, ela abre a porta para passos seguintes.
Uma vez eu soube que dom Serafim disse uma frase muito sábia em relação à Pastoral Vocacional. Ele teria dito para os animadores vocacionais: “Vocês estão preocupados em que os jovens se comprometam, mas eles primeiro precisam ser cativados”. É um pouco esse processo que a Igreja precisa fazer na acolhida. Na verdade e no amor é assim. Primeiro a gente cativa, você gostou, encontra, depois vai comprometendo-se. Acho que a gente precisa de mudar, por isso falei de estratégia.
7. Há críticas em relação à colhida que é feita por padres e secretários (as) paroquiais. Como melhorar isso?
Realmente, os padres e as secretarias paroquiais são ponto-chaves para a acolhida. São o cartão de visitas. O padre, por seu próprio valor simbólico e por todas as funções que ele desempenha, deveria ser sempre aquele bom pastor, de coração aberto, acolhendo as pessoas na situação que estão.
As secretarias são um ponto no qual se articula esse acolhimento. As dioceses hoje trabalham muito essa questão através de reuniões de secretárias. O que a gente percebe primeiro é que as pessoas não estão devidamente preparadas para o trabalho que fazem. Como as empresas treinam muito seus funcionários, dando clareza ao que vem devem fazer, assim deveria fazer a igreja. Uma secretária paroquial tem que ter clareza do seu trabalho, têm que acolher da melhor maneira possível. Mas observamos que as secretárias ficam inseguras na hora de dizer um não, sobretudo em se tratando de questões delicadas. E, diante da insegurança, elas acabam ficando duras.
8. O que poderia se feito para melhorar isso?
Dei um curso numa diocese e pedi para dramatizar os problemas. Percebi que o padre nunca estava presente nas dramatizações. Os personagens queriam falar com o padre, se confessar e nunca o padre estava. Perguntei se elas estavam querendo isentar o padre ou é fato que o padre nunca estava para o povo. O padre tem que ter horários de atendimento. Claro que o padre é uma pessoa humana, tem seus limites e precisa coordenar os trabalhos. A igreja de novo tem que abrir o leque. Tem que se abrir ao aconselhamento, orientar. Claro que devidamente organizados, pessoas idôneas. Pastoral da escuta existe em muitos lugares. Às vezes realmente os secretários e secretárias não estão devidamente instruídos, não conhecem a lei do Direito Canônico, não sabem dizer um não, que é duro para quem chega, com uma certa suavidade, sem que isso se torne um motivo e afastamento das pessoas. As dioceses,de uma maneira geral, estão atentas a essa questão, mas têm que trabalhar mais para que o problema não fique nas mãos desses pobres secretários e secretárias. Alguns fiéis acabam indo para outras denominações religiosas, que têm menos exigências.
A igreja tem que trabalhar melhor algumas questões, como, por exemplo, a Pastoral da Segunda União, que está presente em muitos lugares. Essa é uma relação de inclusão e exclusão, para a qual os secretários paroquiais precisam estar preparados, treinados também para encaminhar os problemas que não são da sua alçada a alguma superiro que possa dar o atendimento.
9. A acolhida feita pelas Igrejas evangélicas é mais eficiente do que a da Igreja Católica?
Não tenho um conhecimento tão profundo das Igrejas Evangélicas, mas tenho observado bastante. Quando citamos a Igreja Evangélica, não é para dizer que ela é melhor que a nossa. Acho que aprendemos com todos. Às vezes entro de propósito numa Igreja evangélica para observar e percebo que eles têm uma organização que permite que sempre tenha alguém acolhendo quem passa. E é isso que faz falta para nós. Tem um capítulo no meu livro que fala da necessidade de organizar melhor nossa acolhida. Na Igreja Católica temos o voluntariado que está aí trabalhando. É claro que todos têm compromissos familiares, outras pastorais, então devemos organizar de maneira que sempre tenha plantão. Precisamos aprender isso com os evangélicos.
10. Como a Igreja católica está acolhendo alguns desses grupos de excluídos, como os homossexuais, os casais em segunda união e as mulheres?
Existe toda uma questão de orientação, de doutrina dentro da igreja. Para a igreja, o matrimônio é indissolúvel. Quando um casamento não deu certo, como nós tratamos? Há hoje o resgate pela segunda união. Mas sabemos que as pessoas não participam de maneira plena. Embora eu tenha dado um curso de acolhida do qual participou uma senhora que coordenava os casais de segunda união e se sentia superentrosada na Igreja. Essa é uma maneira de acolher.
A questão dos homossexuais é difícil, porque, na verdade, Jesus nunca exclui a pessoa. Às vezes são comportamentos que não condizem com algumas orientações da Igreja, são áreas delicadas. O acolhimento à pessoa sempre deve haver. Mas nós discriminamos às vezes culturalmente, não só a Igreja. Discriminamos culturalmente as pessoas que estão fora de um determinado padrão de comportamento que pensamos que todo mundo deveria adotar e que a igreja acolhe. Outras vezes não é a Igreja que discrimina, mas as pessoas que se sentem assim.
Existe o normativo da Igreja que é bastante forte e que, às vezes, sem querer excluir acaba excluindo. Fiz minha dissertação de mestrão sobre o tema de gênero nas rádios católicas. Sabemos que na nossa sociedade a mulher tem uma participação grande. A sociedade está muito aberta para a participação da mulher. As igrejas, de um modo geral, também estão. A Igreja Católica mantém a sua lei. Penso que com o tempo ela terá que se reformular nessa questão de a mulher não participar da hierarquia. Diáconos, padres e bispos são apenas homens. Pelo fato de ser mulher, ela está excluída disso. Claro que as mulheres participam nas assessorias, nos ministérios. Às vezes há a brincadeira de que se as mulheres se afastassem da Igreja, ela ficaria vazia. As mulheres na verdade, carregam comunidades. Em cursos que a gente dá, isso emerge muito forte, já que elas têm consciência de seu trabalho. São questões também culturais que se tem que trabalhar junto. Devemos trabalhar pela inclusão das pessoas. Quem nos ensina todo o projeto de acolhida e projeta luzes é a própria prática de Jesus, e nós somos seguidores dele.
(Texto extraído do Jornal de Opinião, Visão Cristã da Atualidade, 14 1 20 de julho de 2003, nº 737, ano 14, Belo Horizonte – MG)
1. O que é uma boa acolhida?
Uma boa acolhida, na verdade, é uma atitude. Não são técnicas, não é só organizar para que tudo esteja certinho. É também isso, mas é sobretudo uma atitude das pessoas que acolhem. Nesse sentido, coloco uma boa acolhida como uma atitude constante de abertura ao outro.
2. Quais as principais falhas na área da acolhida na Igreja Católica no Brasil?
Acolhida ainda é um problema, porque existe um contexto todo diferenciado no mundo de hoje. O que nos desafia na questão acolhida atualmente são as mudanças sociais, políticas, econômicas, a mobilidade social, a migração. Então, a Igreja tem que se reposicionar em relação a uma série de coisas. Há um contexto que desafia, sobretudo a Igreja católica, que sempre teve seu público muito certo, muito previsto, muito ensinado, e que hoje não responde mais como respondia antigamente. Mudaram muito as situações e, agora, as pessoas têm muitas opções de religião, até de forma de atendimento, de lazer e de tantas outras coisas. Essas mudanças é que acabam “criando um problema” que, na minha opinião, é também uma grande oportunidade para a Igreja.
Nós, da Igreja Católica, temos que nos reformular para que as pessoas que pertencem a ela, que foram batizadas, mas que se afastaram da prática religiosa possam ser reintegradas. O problema talvez seja a falta de sensibilidade e de agilidade para mudar as estratégias do nosso atendimento nas igrejas. De repente nos acomodamos num sistema, num método, num jeito e achamos que todo mundo tem que se adaptar a ele, porque essa é a prescrição da igreja. Para o mundo de hoje, moderno e pós-moderno, as pessoas não se movem por isso, ao menos que tenham uma fé realmente sólida. Mas o problema não são os que participam, que têm uma fé sólida, o problema são aqueles que, às vezes, estão mais fragilizados. Na verdade, o grande problema talvez seja a gente tomar consciência, mudar nossas estratégias e adaptá-las de acordo com uma realidade que realmente satisfaça as pessoas, para que elas se sintam cativadas, atraídas para estar, com alegria e com prazer, na Igreja.
3. A questão da acolhida mal feita pode ter contribuído para a redução do número de católicos no Brasil?
Penso que sim. Há uma pesquisa nesse sentido que sempre me disseram que foi feita pelo Regional Sul, em São Paulo – mas eu não consegui obtê-la até hoje, em preparação para as Diretrizes da CNBB, no final dos anos 80 e início de 90. Essa pesquisa, na verdade, resultou em uma tomada de consciência, porque até então pensava-se que as pessoas saíam da Igreja Católica por causa da influência da mídia. É aquele chavão que todo mundo diz: “ouviu a rádio tal, ouviu a televisão tal e foi para lá”. Depois foi constatado que isso se dava por falta de acolhida na Igreja Católica. Tanto que as diretrizes, de 1991 a 1994, colocam essa questão de maneira muito forte. Realmente as pessoas se afastaram por causa da acolhida. Mas a Igreja Católica está consciente disso há mais de dez anos e já colocou o problema nas suas diretrizes, no sentido de que seja feito um trabalho para que isso seja modificado.
4. Foram tomadas providências concretas para mudar essa situação?
Há muitas providências que têm sido tomadas. Por exemplo, há uma tomada de consciência muito grande na Igreja, em todos os níveis. Há muitas dioceses fazendo cursos e preparando lideranças para a acolhida. As Diretrizes da CNBB retornaram a questão. Penso que estamos tomando providências, mas a gente tem que ser mais efetivo em todos os níveis. Tanto que vemos a colhida não tanto como uma pastoral, mas como ministério, no sentido de que cada cristão tem que se acolhedor; porque a acolhida não se dá na porta da igreja. Ela se dá em todos os sacramentos, em todos os contatos. Muitas vezes uma acolhida pode ser no ambiente de trabalho, na rua, onde houver uma pessoa precisando. Hoje o coração que acolhe, para mim, é como aquele primeiro sinal. Porque a acolhida é um testemunho, é aquele primeiro cativar. Não há um momento certo para uma pessoa ser cativada. Se a gente tem presença de espírito, se está despertado, todo mundo serve para se acolher.
5. O resultado desse trabalho junto aos fiéis ainda vai demorar a aparecer?
Não tenho tanto conhecimento de resultados. Porque a gente às vezes semeia, semeia e não toma conhecimento da colheita. As próprias igrejas deverão avaliar e observar. Quer dizer, que há várias maneiras de acolher. Desde as visitas, o contato. O lugar onde a gente pensa é a Igreja, mas não é só lá, é indo ao encontro das pessoas. Em todos os momentos podemos cativar as pessoas.
6. Seria necessário fazer-se uma mudança cultual?
Sempre tem aquela coisa de se sentir bem. Acho que, de repente, nós, na Igreja Católica, trabalhamos muito a questão da doutrina, da razão por muitos anos. Não foi só a Igreja, foi toda uma cultura. O pensamento de que era preciso mudar, assumir uma obrigação. Na sociedade atual, as pessoas já não se movem tanto pelo dever, mas pelo prazer, pelo prazer de estarem juntas. Então as nossas igrejas precisariam ser esse espaço que as pessoas gostam e têm prazer de estar.
Há mais de dez anos que estou muito sensível a esta questão da acolhida. Fiz uma frase olhando para como Jesus acolhia as pessoas do seu tempo, porque naquele tempo também necessária uma boa acolhida, sobretudo para os mais afastados. A frase é assim: o humano é a porta de entrada para Deus. Sempre que uma pessoa tem um gesto humanitário, ela abre a porta para passos seguintes.
Uma vez eu soube que dom Serafim disse uma frase muito sábia em relação à Pastoral Vocacional. Ele teria dito para os animadores vocacionais: “Vocês estão preocupados em que os jovens se comprometam, mas eles primeiro precisam ser cativados”. É um pouco esse processo que a Igreja precisa fazer na acolhida. Na verdade e no amor é assim. Primeiro a gente cativa, você gostou, encontra, depois vai comprometendo-se. Acho que a gente precisa de mudar, por isso falei de estratégia.
7. Há críticas em relação à colhida que é feita por padres e secretários (as) paroquiais. Como melhorar isso?
Realmente, os padres e as secretarias paroquiais são ponto-chaves para a acolhida. São o cartão de visitas. O padre, por seu próprio valor simbólico e por todas as funções que ele desempenha, deveria ser sempre aquele bom pastor, de coração aberto, acolhendo as pessoas na situação que estão.
As secretarias são um ponto no qual se articula esse acolhimento. As dioceses hoje trabalham muito essa questão através de reuniões de secretárias. O que a gente percebe primeiro é que as pessoas não estão devidamente preparadas para o trabalho que fazem. Como as empresas treinam muito seus funcionários, dando clareza ao que vem devem fazer, assim deveria fazer a igreja. Uma secretária paroquial tem que ter clareza do seu trabalho, têm que acolher da melhor maneira possível. Mas observamos que as secretárias ficam inseguras na hora de dizer um não, sobretudo em se tratando de questões delicadas. E, diante da insegurança, elas acabam ficando duras.
8. O que poderia se feito para melhorar isso?
Dei um curso numa diocese e pedi para dramatizar os problemas. Percebi que o padre nunca estava presente nas dramatizações. Os personagens queriam falar com o padre, se confessar e nunca o padre estava. Perguntei se elas estavam querendo isentar o padre ou é fato que o padre nunca estava para o povo. O padre tem que ter horários de atendimento. Claro que o padre é uma pessoa humana, tem seus limites e precisa coordenar os trabalhos. A igreja de novo tem que abrir o leque. Tem que se abrir ao aconselhamento, orientar. Claro que devidamente organizados, pessoas idôneas. Pastoral da escuta existe em muitos lugares. Às vezes realmente os secretários e secretárias não estão devidamente instruídos, não conhecem a lei do Direito Canônico, não sabem dizer um não, que é duro para quem chega, com uma certa suavidade, sem que isso se torne um motivo e afastamento das pessoas. As dioceses,de uma maneira geral, estão atentas a essa questão, mas têm que trabalhar mais para que o problema não fique nas mãos desses pobres secretários e secretárias. Alguns fiéis acabam indo para outras denominações religiosas, que têm menos exigências.
A igreja tem que trabalhar melhor algumas questões, como, por exemplo, a Pastoral da Segunda União, que está presente em muitos lugares. Essa é uma relação de inclusão e exclusão, para a qual os secretários paroquiais precisam estar preparados, treinados também para encaminhar os problemas que não são da sua alçada a alguma superiro que possa dar o atendimento.
9. A acolhida feita pelas Igrejas evangélicas é mais eficiente do que a da Igreja Católica?
Não tenho um conhecimento tão profundo das Igrejas Evangélicas, mas tenho observado bastante. Quando citamos a Igreja Evangélica, não é para dizer que ela é melhor que a nossa. Acho que aprendemos com todos. Às vezes entro de propósito numa Igreja evangélica para observar e percebo que eles têm uma organização que permite que sempre tenha alguém acolhendo quem passa. E é isso que faz falta para nós. Tem um capítulo no meu livro que fala da necessidade de organizar melhor nossa acolhida. Na Igreja Católica temos o voluntariado que está aí trabalhando. É claro que todos têm compromissos familiares, outras pastorais, então devemos organizar de maneira que sempre tenha plantão. Precisamos aprender isso com os evangélicos.
10. Como a Igreja católica está acolhendo alguns desses grupos de excluídos, como os homossexuais, os casais em segunda união e as mulheres?
Existe toda uma questão de orientação, de doutrina dentro da igreja. Para a igreja, o matrimônio é indissolúvel. Quando um casamento não deu certo, como nós tratamos? Há hoje o resgate pela segunda união. Mas sabemos que as pessoas não participam de maneira plena. Embora eu tenha dado um curso de acolhida do qual participou uma senhora que coordenava os casais de segunda união e se sentia superentrosada na Igreja. Essa é uma maneira de acolher.
A questão dos homossexuais é difícil, porque, na verdade, Jesus nunca exclui a pessoa. Às vezes são comportamentos que não condizem com algumas orientações da Igreja, são áreas delicadas. O acolhimento à pessoa sempre deve haver. Mas nós discriminamos às vezes culturalmente, não só a Igreja. Discriminamos culturalmente as pessoas que estão fora de um determinado padrão de comportamento que pensamos que todo mundo deveria adotar e que a igreja acolhe. Outras vezes não é a Igreja que discrimina, mas as pessoas que se sentem assim.
Existe o normativo da Igreja que é bastante forte e que, às vezes, sem querer excluir acaba excluindo. Fiz minha dissertação de mestrão sobre o tema de gênero nas rádios católicas. Sabemos que na nossa sociedade a mulher tem uma participação grande. A sociedade está muito aberta para a participação da mulher. As igrejas, de um modo geral, também estão. A Igreja Católica mantém a sua lei. Penso que com o tempo ela terá que se reformular nessa questão de a mulher não participar da hierarquia. Diáconos, padres e bispos são apenas homens. Pelo fato de ser mulher, ela está excluída disso. Claro que as mulheres participam nas assessorias, nos ministérios. Às vezes há a brincadeira de que se as mulheres se afastassem da Igreja, ela ficaria vazia. As mulheres na verdade, carregam comunidades. Em cursos que a gente dá, isso emerge muito forte, já que elas têm consciência de seu trabalho. São questões também culturais que se tem que trabalhar junto. Devemos trabalhar pela inclusão das pessoas. Quem nos ensina todo o projeto de acolhida e projeta luzes é a própria prática de Jesus, e nós somos seguidores dele.
(Texto extraído do Jornal de Opinião, Visão Cristã da Atualidade, 14 1 20 de julho de 2003, nº 737, ano 14, Belo Horizonte – MG)
5 comentários:
UM EXEMPLO DE FALTA DE ACOLHIDA EM NOSSA PARÓQUIA: Nesta semana fomos a missa de sétimo de dia de um amigo na qual estava presente uma grande quantidade de parentes e amigos do falecido. Alguns eram frequentadores da paróquia mas muitos não pertenciam à igreja. Para nossa surpresa, por ocasião da leitura das intenções , antes de começar a missa, esqueceram de incluir o nome do falecido. Foi preciso que a viúva se dirigisse à comentarista e solicitasse a sua inclusão. A missa teve duração de uma hora e ao término o páraco e o diácono levaram cerca de 20 minutos elogiando a Dirigente e as atividades dos Cenáculos da Paróquia; em nenhum momento foi dirigido uma palavra sequer de conforto e esperança aos familiares e amigos do falecido. É lamentável passar desapercebida a acolhida neste momento de dor e saudade. Embora não seja da familia senti-me profundamente constrangido ao verificar que os familiares se sentiram excluidos naquela comunidade. Além do mais foi perdida a oportunidade de levar a Palavra de Deus neste momento. Seria importante que as Dioceses implementassem uma Pastoral da Acolhida em cada paróquia tendo a frente os párocos e diáconos pois entendemos que um das razões principais da fuga de muitos católicos para outras religiões é a falta de acolhida, tão levada em conta nas igrejas evangélicas.
Joel Dantas
Realmente,doi no nosso coracao ver essa falha e as maos continuarem atadas...2 filhos meus foram p/as Igrejas Evangelicas Batista e Quadrangular,nao foi facil p/ mim...nao foi a toa q entrei nesse blogger procurando uma solucao;fui convidada p/fazer parte do conselho da mjnhacomunidade e a acolhidaé mto importante.
Meu nome é Conceição, sou coordenadora da equipe de leitores da paróquia Santa Cruz de Itaberaba, Freg. do ò em SP., onde também a acolhida estava sendo defacitária. A pedido do paroco, Pe. Beto, formei uma nova equipe,inclusive com a inclusão de jovens e articulada com a já existente, com treinamento, usando a Palvra do Evangelho, e dando destaque ao acolhimento de Jesus. Na Quinta-feira na missa de Corpus Crhist, foi celebtada a missa de envio dessa pastoral, que começou suas atividades no Domingo seguinte, dia 26.06.2011, onde em cada missa, das 8, 10 e 18h, cada equipe foi apresentada a comunidade. Ficaram três na porta principal, acolhendo com cortesia cada pessoa que chegava, conduzindo-as até o banco, dando prioridade ás pesoas idosas e com crianças no colo, e uma como suporte, conduzindo as pessoas até a secretaria, bebedouro e toillet.Ao começar a missa, cada agente se posicionou em lugares estratégicos onde podiam ser visualizados pela assembléia. Na missa de sétimo dia, foi reservado um banco para os familiares,que ao serem recepcionados na porta, eram conduzidos para esse local. No final o comentarista dá as boas-vindas e agradece aos visitantes e novos paroquianos, não esquecendo de dar uma palavra de apoio ás familias enlutadas. No final se colocam´na porta da igreja, desejando a todos um bom Domingo, que Deus os acompanhe e que voltem mais vezes.Percebemos que a comunidade já se manifestou a favor, e outras pessoas já vieram pedir para trabalharem nessa pastoral.
Não sei se ajuda, mas essa é minha singela participação para que possamos melhorar nossa acolhida
Olá a paz de JESUS e o amor de MARIA,devido mais este momento que a nossa igreja passa que é a falta de acolhida em muitas paroquias,em joão lisboa-MA,foi proposto para os crismados da turma 2012 criarem um grupo de acolhida,eu por meio deste comentario venho agradecer os conteudos disponiveis neste site,Obrigado a todos moderadores deste site.
Abraços!
Samuel Reis.
Olá a paz de JESUS e o amor de MARIA,devido mais este momento que a nossa igreja passa que é a falta de acolhida em muitas paroquias,em joão lisboa-MA,foi proposto para os crismados da turma 2012 criarem um grupo de acolhida,eu por meio deste comentario venho agradecer os conteudos disponiveis neste site,Obrigado a todos moderadores deste site.
Abraços!
Samuel Reis.
Postar um comentário