quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Nossas Potencialidades

Cabe-nos despertar o artista, o sábio, o juiz, o guerreiro e o humorista que está em nós.

Habita em nosso íntimo um reino de potencialidades e possibilidades. Escutar nosso interior e liberar os dons internos muito contribui para a descoberta de nossas capacidades e carismas.

1. O artista. Mora dentro de nós o artista, a capacidade estética, o desejo de criatividade, a ânsia de transformação, o encantamento por novas idéias, a atração pela beleza. É preciso dar espaço para o nosso artista, não engarrafá-lo nem imobilizá-lo. Valorizemos a sabedoria popular, o artesanato, a cultura, a religiosidade. Há tesouros a serem descobertos. Recuperemos o encantamento, o maravilhamento, o assombro, a admiração, a comoção. A beleza salvará o mundo. Se as coisas fascinam quão fascinante será ver a Deus face a face, o Artista do universo.

2. O sábio. Nosso sábio interior tem a capacidade de inspirar, de decifrar, de obter respostas, de realizar sonhos. Habita em nós a sede de sabedoria. Alem disso, fazemos “perguntas malditas”, mas que na realidade são benditas: Por que existo? Para onde vou? Porque o sofrimento e a morte? Nosso sábio indica soluções e nos dá proteção. O silêncio é também sabedoria e revelação. Não nos saciamos com o ter, mas com o ser e o saber. Nosso sábio interno nos pergunta: “Por que você não pratica aquilo que sabe”? “Por que você não é o que ensina”? Acabamos percebendo que não é a razão que fundamenta a realidade, mas, o mistério. Aliás, o mistério é a razão fundante e fundamental de todas as coisas. O mistério faz pensar, aguça nosso sábio interior. O sábio revela os mistérios, porque tem sabedoria humana e recebe a luz do Espírito Santo.

3. O juiz. Fala dentro de nós o juiz. Eis nossa capacidade de avaliar, julgar, decidir, organizar e dar destino às coisas. Nossas avaliações podem ser racionais e emotivas. Daí a necessidade de discernimento, de bom senso. A capacidade de julgar, criticar, condenar, estigmatizar é muito grande. É mais fácil desintegrar o átomo que o preconceito. A estigmatização é como tatuagem, não se apaga. Precisamos portanto, da reta razão, das virtudes cardeais: a prudência, a fortaleza, a temperança, a justiça, para orientar o juiz que mora em nós e seguir o reto juízo que é o bom senso.

4. O guerreiro. É nossa capacidade de ação, de administração, de organização. São nossas realizações concretas, nosso cotidiano com o enfrentamento das necessidades, das surpresas, dos sofrimentos. É impressionante a capacidade que temos de solucionar problemas, de vencer contrariedades. Quão guerreiras são as mães de família, cheias de coragem e ousadia. Fala mais alto o elan vital, a coragem de existir, as vitórias do cotidiano. Com os olhos fixos em Deus e a mão firme no leme da história, construímos a vida. O homem não cessa de ser grande, mesmo quando cai. Até o reino de Deus exige garra, luta, combate pelo bem e pela justiça. Somos guerreiros da vida e do reino de Deus.

5. O humorista. Alegrar os outros é um gesto profundo de amor. Pessoas alegres tornam leve o ambiente. O riso rejuvenesce. O bom humor cura. A festa nos livra da rotina. Alegria é remédio, terapia. O aspecto lúdico da vida congrega as pessoas, faz explodir os dons e qualidades, facilita a comunicação. O único ser criado que sabe sorrir é o ser humano. O sorriso nos caracteriza como humanos. Liberar a criança que está em nós, o nosso lado espontâneo, transparente, lúdico, humorista faz a vida mais prazerosa, sadia e irradiante.

Em nosso agir, na reconstrução da vida, na prática do bem, na história de cada um de nós, Deus vai escrevendo uma história de amor. Cada acontecimento é uma carta de amor de Deus. Nossa vida é uma teografia, uma carta de amor, escrita por Deus. Existimos, vivemos, trabalhamos porque somos amados. “Sou amado, logo existo”, eis o nosso credo fundamental. Eis o que faz guerreiros.
Cabe-nos despertar o artista, o sábio, o juiz, o guerreiro e o humorista que está em nós e nas pessoas. É do coração, portanto, do nosso interior que nascem as coisas que fazemos no exterior. Não sejamos castradores dos dons e qualidades, mas promotores da auto-estima, da cultura e das potencialidades das pessoas.


Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina

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