terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Acolhimento

"Quero a alegria de um barco voltando!!!
Quero a ternura de mãos se encontrando!!!"


(Dolores Duran, em "A Noite do Meu Bem")

Benedicto Ismael Camargo Dutra


Nunca como agora o acolhimento caloroso se tornou tão necessário na vida dos seres humanos tão desgastados pela aspereza e falta de amor com que se reveste a vida moderna. Desconfianças e ressentimentos impedem o desabrochar do alegre e espontâneo acolhimento que se oferece como uma flor àqueles que nos são caros.
A partida! A chegada! O encontro! O calor de mãos se encontrando. A alegria de sermos alegremente recebidos com sorrisos espontâneos. Quanta beleza humana contida na simplicidade desses atos. E no entanto eles se tornam cada vez mais raros de serem observados, mesmo em ambientes onde apenas a amizade e a compreensão deveriam imperar. O que se passa com o ser humano que não mais consegue vivenciar a simplicidade da vida?

O lar é o ponto central do acolhimento. É nele que a mulher mostra o que a distingue do homem construindo um ambiente hospitaleiro para o caloroso acolhimento dos seus. O lar é o refugio onde corpo e alma se recuperam das hostilidades que dominam o ambiente externo. O lar deve propiciar sentimentos elevados, como a gratidão ao Altíssimo Todo-Poderoso. Contudo o lar humano nem sempre se apresenta como deveria ser, dominando as incompreensões e a amargura, mesmo estando equipado com dispendiosos e modernos utensílios para oferecer
conforto e beleza. Nada pode substituir o amor, a amizade e a verdadeira consideração humana.
O grande entrave na comunicação entre os seres humanos está ligado, na maioria das vezes, à desconfiança, ao medo e ao individualismo egoístico. Muitos escondem a sua verdadeira face e o seu real propósito, dissimulando com conversas animadas, para desguarnecer a vigilância espiritual do próximo, pois a intuição, a voz do espírito não se deixa enganar. A comunicação leal e sincera torna-se difícil. Nesses casos intervém também o orgulho e o medo de que algo lhes
possa ser tirado, ou que o outro possa chegar primeiro ao objeto de sua cobiça. Isso tudo resulta do pendor dominante de invejar o que o outro possui.

É no ambiente de trabalho que passamos grande parte de nosso tempo. É muito importante a atuação daqueles que exercem cargos de comando ou chefia, pois se não apresentarem claramente uma postura de serenidade e real confiança, acabam instabilizando o grupo. Lealdade e franqueza deveriam ser os principais atributos transmitidos, eliminando-se o descrédito, a apatia e os ressentimentos, inspirando uma visão compartilhada, fazendo com que o grupo acredite em seus objetivos. Então, com a coragem e a alegria robustecidas, surgirão as equipes vencedoras. É evidente que entre os membros dessas equipes haja o bom entrosamento e o caloroso acolhimento como fato natural. O encontro sempre será uma alegria, uma oportunidade a mais para dialogarem sobre os seus alvos comuns. Mas hoje não há mais diálogo porque os seres humanos ocultam os seus objetivos pessoais, nada deixando transparecer. Freqüentemente se observa o isolamento das chefias. Elas se mantém afastadas evitando o comprometimento, não raro encaminhando as suas proposições de forma determinante e autoritária, sem demonstrar o
envolvimento pessoal. Não se expõem temendo prejudicar a sua imagem, mas assim não colhem as experiências que os erros também propiciam, como também não mostram a sua face humana para os seus liderados que, inconscientemente, passam a temê-las ao invés de oferecerem a
espontânea colaboração por respeito e admiração. No livro “Escola de Resgate de Líderes”, J. A. Nobre, recomenda “que seja empregada a liderança situacional, cuja essência está no líder
escolher o estilo de liderança mais adequado para cada situação vivenciada junto a sua equipe, pois o emprego da liderança autoritária continuadamente enseja conseqüências desagradáveis como por exemplo: os colaboradores praticamente não participam, ou seja, não se expõem, não dão sugestões; para que qualquer tarefa seja realizada, o chefe tem que mandar; ninguém toma a iniciativa para realizar um trabalho ou solucionar qualquer problema; o chefe necessita estar permanentemente observando o trabalho de seus comandados, pois caso contrário a tarefa não será realizada; as pessoas tornam-se submissas, apáticas e isso gera um ambiente frio e
desagradável. No entanto, a liderança autocrática, em algumas circunstâncias, é extremamente recomendada e até torna-se imperiosa a sua utilização.” Quantas empresas não desapareceram exatamente por isso? É muito difícil de se dizer. O mais flagrante desastre provocado pelo insensível autoritarismo nos foi dado pelo desmanche da União Soviética. Mas, "os indivíduos precisam se sentir parte do trabalho. Uma participação real em algo maior do que eles, um toque de realização espiritual. Devem voltar os olhos internos e externos para horizontes maiores. Nossos corpos podem estar presentes no trabalho, mas nossos corações, nossas mentes e nossa imaginação podem estar neutros ou comprometidos com outros lugares. Para ter uma convicção
inabalável, trabalhar de corpo e alma, é preciso enxergar a vida e o trabalho como uma peregrinação." (“Cruzando o Desconhecido”, David Whyte, Edit. Negócio)
O significado disso é que sem o emprego da intuição nunca poderá surgir um trabalho de real valor, pois ela é a expressão do espírito desperto, e para isso os chefes também deverão contribuir em relação aos seus subordinados, permitindo-lhes compartilhamento na escolha
dos caminhos e na respectiva responsabilidade, pois só na atividade consciente o indivíduo poderá desenvolver e fortalecer a própria intuição. Sentindo-se participante e envolvido, espontaneamente oferecerá o melhor de si ao trabalho e ao chefe. Mas para tanto os chefes deveriam ser profundos conhecedores das Leis da Criação, para comandarem amparados na energia que delas emana, construindo e beneficiando tudo ao seu redor, oferecendo confiança e consideração ao invés do medo das represálias.

Nenhum comentário: