sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Comunicação e Acolhimento

Acolhida é uma atitude de relação humana. É a comunicação entre pessoas entrando em sintonia, dialogando, se expressando em gestos, enfim, estabelecendo elos de união com Deus, com os irmãos e o meio ambiente. Atualmente as relações são marcadas por imensas dificuldades, em todos os sentidos. A sociedade sofre mutações constantes e velozes. A sensibilidade de cada um vai se modificando e com ela, os hábitos de vida, tornando um grande problema de relacionamento, quer na família, nos negócios, com os amigos, no ambiente de trabalho, na escola, etc.

As pessoas, no fundo, sentem que o rumo de suas vidas tem muito a ver com sua profunda aspiração religiosa.

Toda a agitação e o burburinho da vida vão envolvendo as pessoas, fazendo com que elas se distanciem e, esta distância, provoca um imenso vazio, trazendo inúmeras conseqüências entre as quais, a solidão.

Necessário se faz a aproximação. Há uma emergência de socialização, de contatos pessoais mais fortes que ajudem a proximidade e reciprocidade.

A Igreja ensina que todos têm necessidades. Não se deu conta que têm desejos também. A necessidade leva para a satisfação física: roupas, alimentos, remédios, moradia... O desejo é fascinação, é sonho: solidariedade, segurança, vida eterna, amor fraterno, diálogo, aconchego, atenção, etc.. É preciso tomar consciência e procurar satisfazer as necessidades e aspirações.

Estamos vivendo uma “época em mudança”, onde a sociedade vai se movendo em várias direções, em todos os âmbitos. Há um aparente esvaziamento espiritual e uma certa condição para a aceitação das realidades. Esta época é marcada pelas muitas opções oferecidas pelo mundo, que são caminhos diversos trazendo inúmeros desafios: maneira de pensar, de agir, inversão de valores, incluindo a religiosidade.

Este contexto faz com que haja um empenho maior para trabalhar o acolhimento, procurando resgatar a afetividade das pessoas, despertando um desejo de viver, estar bem e de se inserir. Todos querem, intensamente, escapar do anonimato, pertencer a algum grupo para se sentirem eles mesmos, construir e salvaguardar a própria identidade. Ninguém que ser um rosto perdido na massa.



A Igreja e a Acolhida

Refletindo diante desta situação, a Igreja está preocupada, não só com a dispersão de seus filhos, como também com a indiferença e desesperança dos outros. Procura orientar para que seja feito o resgate dessas vidas, de forma ampla, isto é, no sentido de redescobrir a dignidade humana com as práticas da solidariedade, fraternidade, inserindo-as num contexto social, mantendo sua individualidade valorizando-as devidamente.

No afã de servir e orientar no caminho reto, a Igreja sempre atualiza sua existência ao longo dos séculos. O Concílio Vaticano II provocou inúmeras mudanças e uma onda de renovação tomou conta de seu seio, abrangendo estruturas e pessoas, pois a transformação de ambas deve acontecer ao mesmo tempo.

Em diversos documentos, a Igreja dá atenção à acolhida, de maneira rápida ou detalhada, colocando a importância desta atitude de misericórdia, à luz do gesto acolhedor de Jesus Cristo.

No Plano atual, apesar de não aparecer explicitamente, a acolhida está impregnada em todos os projetos diocesanos permeando todas as ações pastorais e eclesiais. Se torna uma obrigação de todos e sua utilização deverá acompanhar a realidade de cada comunidade, pastoral ou grupo humano. É uma bandeira de compromisso e que deve estar á frente abrindo novas alternativas de evangelização e sendo suporte para o bom caminhar do Plano de Pastoral. A acolhida é um elemento intrínseco na pessoa humana, que deve ser cultivado de todos os modos, pois é a porta de entrada para todo e qualquer relacionamento e a necessidade de trabalhá-la surgiu como prioridade, sentida no seio das comunidades da Diocese.

Aprender com Jesus o acolhimento

Os critérios para a boa acolhida fundamentam-se na Palavra de Deus, nas orientações da Igreja e nas necessidades da comunidade local. É bom conhecer a pedagogia que Jesus usava na acolhida dos que o cercavam. Ele não estava preocupado com o sucesso, mas sim, com a qualidade e com a fidelidade.

A nossa vocação cristã consiste em percorrer o mesmo caminho do Mestre, com humildade e confiança, a fim de comunicar a todos a salvação.

A comunhão com o Senhor Ressuscitado impulsiona o cristão a descobrir a existência da acolhida e a comunhão com o irmão e a solidariedade com as pessoas, sem exceção. A acolhida é um elemento integrante da evangelização pois proclama a misericórdia oferecida a todos, dando sentido à existência e entusiasmando para querer ver Jesus, caminho, verdade e vida.

Acolher bem as pessoas é uma forma de se viver a própria fé e realizar com eficácia a missão que Jesus nos confiou.

Para que a acolhida seja, de fato, o elemento propulsor de nossa ação pastoral, é preciso que se conheça três dimensões:

Dimensão pessoal: a acolhida diz respeito, primeiramente, à pessoa na sua individualidade, modo de ser, liberdade, anseios. Na missão, Jesus chama seus discípulos pelo nome e respeita sua liberdade. Será que as nossas comunidades não crescem por causa do pouco caso que fazemos às pessoas e sua história, não dando o valor merecido e enfatizando só o que é negativo?

Dimensão comunitária: a acolhida deve resgatar um sentimento efetivo de unidade de fé e vida na vivência cristã da comunidade. Deve harmonizar essa existência cristã, onde não aconteça discriminação, mas seja lugar de discernimento, espaço de experiência do perdão, animada pelo amor fraterno e que dê ao mundo o testemunho de unidade. Será que nossas comunidades não se tornaram agrupamento de pessoas que, apesar de bem intencionadas, fazem seu apostolado sem se importarem com o verdadeiro sentido de convivência e partilha?

Dimensão social: a pessoa faz parte da sociedade na qual ela vive. Logo, essa mesma pessoa influi e é influenciada no lugar onde se situa. Há muitos desafios que merecem atenção – as mudanças sócio-econômicas, culturais, as crises de ética, o indiferentismo e pluralismo religioso. Tudo isso se modifica muito rápido e traz consequências que estão à vista: miséria, violência, desemprego, morte, vícios, exclusão e outros males dos nossos dias.

O Espírito do Senhor Ressuscitado se faz presente e operante em todo tempo e lugar, na diversidade de contextos e situações humanas, fazendo compreender que
a atitude de acolhida deve privilegiar a aproximação das pessoas de toda a sociedade. Isto vai exigir mudanças, desacomodação, revisão de ações pastorais e eclesiais e, sobretudo, atitude de espírito respaldada no seguimento de Jesus Cristo.


Preparação para o acolhimento

Quando pensamos em acolhida, precisamos definir onde gastar nossas forças nesta direção. Há pessoas que pensam que acolher está relacionado com as boas vindas na comunidade, sobretudo nas celebrações eucarísticas ou da Palavra. Isto é importante, mas não é o suficiente.

É preciso criar nova consciência sobre a necessidade de acolhida e aplicá-la em todas as ações do relacionamento humano, mormente na Igreja.

Um planejamento deve ser implantado para a organização do acolhimento para dirigir os esforços ao objetivo principal: ajudar as pessoas a serem reconhecidas na sua identidade, na sua pertença a algum grupo, dando-lhe o devido valor. Também buscar os afastados, introduzí-los na comunidade.

Onde fazer isso? nas secretarias diocesanas e paroquiais, nas comunidades, no trabalho pastoral – exéquias, saúde, catequese, etc. – de casa em casa, no local de trabalho, no lazer, em todas oportunidades que surgirem e que seja necessário o gesto de boas vindas, de acolhimento.

A qualidade na acolhida deve ser constante preocupação. Ser hospitaleiro é colocar de lado os interesses pessoais, as ocupações e preocupações para dar um perfeito atendimento ao outro.

Para a acolhida, o ideal é que sejam preparadas pessoas comprometidas com a missão a elas destinadas, cheias do Espírito Santo, com vida de oração, pessoas criativas e entusiasmadas.

Muitas atividades envolvem o acolhimento, e devem ser executadas, sempre, com planejamento, responsabilidade e conscientização.

acolhimento ambiental (comunicação visual)
visitas às famílias que chegam à comunidade
visitas domiciliares frequentes, mormente em ocasiões tristes e alegres
acolhimento na liturgia, usando criatividade e inovações
acolhimento aos transeuntes
bom atendimento aos que buscam sacramentos, em situações irregulares, evitando o constrangimento para não ocorrer o afastamento
manter as Igrejas abertas o dia todo, dentro do possível
iniciar na catequese a cultura do acolhimento
capacitação aos assessores paroquiais
trabalhar a acolhida em todas pastorais e movimentos que formam a comunidade
não devem ser criadas exigências além das normas diocesanas em vigor e evitar ao máximo a burocracia.


O assessor paroquial é um evangelizador por excelência, pois a acolhida é capaz de evangelizar quando desperta o bem no outro. Despertar é a palavra-chave. Pela atitude, gesto, palavra, som, imagem, desperta-se no outro o desejo de viver e de se inserir. Por isso, o trabalho da secretaria jamais deve sobrepor ao de acolhimento afetivo, humano e fraterno.

Algumas dicas podem ajudar e ser incorporadas, gradativamente, no cotidiano de quem tem a missão de acolher e informar:

O assessor deve conhecer muito bem os serviços da paróquia:
disponibilidade de tempo do senhor pároco;
horários das missas, casamentos, batizados, cursos, palestras, etc.
horários de encontros e reuniões das pastorais e movimentos
todos os eventos especiais da paróquia.
O assessor deve procurar conhecer toda a liderança da paróquia, manter o cadastro de cada pessoa em dia para eventuais comunicações.
Manter os murais da Igreja em ordem, organizado, atualizado procurando torná-lo atrativo usando a criatividade.
Manter a secretaria paroquial bem arrumada, limpa, organizada, tornando o ambiente acolhedor e aconchegante, observando a comunicação visual.
A postura profissional também precisa ser cuidada, dentro de um método de trabalho organizado: com o material (papéis, canetas, lápis, clips, etc,), com a aparência pessoal (limpeza, recato, etc.), com atitudes (mascando chicletes, pés sobre a mesa, conversas paralelas ao serviço, falta de atenção, etc). Manter uma aparência agradável, comunicativa e alegre.
Aquele que procura o escritório paroquial jamais deve presenciar discussões entre funcionários, nem tomar conhecimento de algum problema da paróquia.
Conhecer muito bem as normas estabelecidas pela Diocese, procurando minimizar a burocracia e não exigir nada além destas normas. Saber manusear todos os documentos e livros necessários ao bom relacionamento entre a paróquia e Diocese.
É importante criar métodos que tornem mais fácil o cotidiano da secretaria, por exemplo, atender as pessoas por ordem de chegada, anotando esta ordem e não alterá-la por conveniências pessoais. Se receber visitas, seja breve sem descuidar da atenção aos outros.
Procurar estar bem atualizado com tudo o que se refere à Igreja: notícias sobre S.Santidade o Papa, o Bispo, a Diocese, a CNBB, o clero, enfim, aquilo que pode acrescentar no trabalho diário de informar aos interessados.
Procurar sempre melhorar sua condição profissional, fazendo cursos, reciclagens, como também a parte espiritual, conscientizando-se da necessidade da atitude cristã de acolhida suscitando o amor fraterno e a esperança ao irmão.

(Texto original do site www.entreredes.org.br - Órgão de Notícias da Diocese de São Jose do Rio Preto)

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