quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

PARTILHAR PARA PROMOVER A VIDA...


“Economia e Vida” é o Tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano (CFE/2010). E o Lema é: “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6, 24).

Tudo o que existe, é dádiva gratuita do Criador a serviço da vida. Promover e compreender o sentido da vida e das coisas criadas significa ser fiel à vontade de Deus e ao Evangelho. Significa não compactuar com as injustiças que causam exclusão social e miséria. Ainda estamos longe de querer perceber e administrar corretamente as riquezas que Deus colocou a nosso dispor.

Ao longo desta Campanha, queremos fazer parte dos que se mobilizarão e trabalharão na promoção do bem comum e na implantação de uma “economia fraterna e solidária” a serviço da vida e do ser humano integral. A pessoa só é tal em sua unidade e só pode ser considerada em toda sua integridade, sendo a origem, o foco e o propósito de toda a vida econômica, social e política (cf. Texto Base (TB), 10; GS, 63). Mas nada de novo acontecerá, se não houver mudança radical em nossas atitudes pessoais, comunitárias e sociais (cf. TB, 4), se não mudarmos nossos critérios de valor em relação ao ter e ao ser. A Quaresma é tempo privilegiado para essa conversão.

O objetivo geral e os objetivos específicos da CFE indicam claramente os caminhos para a construção de uma sociedade pacífica, harmoniosa e tranquila (cf. TB, 16-18). Para se atingirem tais objetivos, o Texto-Base aponta algumas estratégias bastante incisivas: “Denunciar a perversidade de todo modelo econômico que vise em primeiro lugar ao lucro, sem se importar com a desigualdade, miséria, fome e morte. Educar para a prática de uma economia de solidariedade, de cuidado com a criação e valorização da vida como o bem mais precioso. Conclamar as Igrejas, as religiões e toda a sociedade para ações sociais e políticas que levem à implantação de um modelo econômico de solidariedade e justiça para todas as pessoas” (TB, 19). No entanto, objetivos e estratégias da Campanha só produzirão frutos na medida em que forem trabalhados, sobretudo, nos níveis: social, eclesial, comunitário, pessoal (cf. TB, 20).

Nesse sentido, urge intensificar nossos laços de única e mesma família humana; melhorar nossa convivência fraterna e nossa comunhão; construir uma justiça econômica mais sólida diante da persistência da indigência, da pobreza e das grandes desigualdades sociais (cf. TB, 25).

Por que tanta desigualdade? Por que tantos indigentes?” É hora de estendermos mãos fraternas, em primeiro lugar, a todas as pessoas que buscam o necessário para viver dignamente, e juntos caminhar com os que trabalham sem ganhar o necessário, com os enfermos que não conseguem remédios e cuidados, com os moradores de rua sem-teto, os acampados sem-terra, os desempregados e famintos (cf. TB, 45). Mais do que nunca, “somos chamados a estar juntos com o povo que sofre e com a Criação que geme, em solidariedade com aqueles e aquelas que estão construindo comunidades alternativas de vida” (TB, 68).

A sociedade e a ação governamental têm a obrigação moral de garantir oportunidades iguais, satisfazer as necessidades básicas das pessoas e buscar a justiça na vida econômica (cf. TB, 26). Os pobres não precisam apenas ser socorridos, mas também devem ser ouvidos, levados a sério, valorizados em suas capacidades e potencialidades (TB, 46). Portanto, não basta crescer no volume global de recursos, se os pobres não atingirem as condições a que todo ser humano tem direito (cf. TB, 51).

É preciso criar uma nova mentalidade em relação à economia. Ela existe para a pessoa e para o bem comum da sociedade, não a pessoa para a economia (cf. TB, 69). A economia para a vida será solidária, quando tivermos a coragem de mudar nossa atitude diante do dinheiro e dos bens materiais. Na verdade, onde estiver o meu tesouro, ali também estará o meu coração (cf. Mt, 6, 21). “Se soubermos partilhar, certamente vai haver pão, casa, cura, saúde, educação e participação para muito mais gente” (TB, 88). Não nos contentemos, porém, em ajudar as pessoas somente, quando acontece alguma desgraça ou uma catástrofe. São necessárias ações concretas que transformem o modelo de vida e o modelo econômico de nossa sociedade (cf. TB, 91). O ideal das primeiras comunidades cristãs é ainda o jeito melhor de partilharmos solidariamente nossos bens e nossos dons (cf. At 4, 32).

Dizemos que “a caridade começa em casa”. A economia de solidariedade também. Mas como é difícil partilhar até mesmo entre os irmãos/ãs de sangue, membros de uma mesma família!... A sociedade será mais solidária, quando as famílias aprenderem a partilhar e a repartir segundo as necessidades de cada membro. Também as Paróquias “mais ricas” têm um longo caminho a percorrer na busca de Paróquias-irmãs “mais pobres”, necessitadas de ajuda concreta e generosa.

Enfim, tornemo-nos sensíveis aos sofrimentos do povo e disponíveis às suas necessidades. Contemplando o Coração misericordioso de Jesus, seremos capazes de transformar nossa partilha solidária em caridade fraterna.

Dom Nelson Westrupp, scj
Bispo Diocesano de Santo André
Fonte: http://www.diocesesantoandre.org.br

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