domingo, 15 de fevereiro de 2009

Continuação... QUARESMA - Reconciliação 2.

Breve história do Sacramento da Penitência

* No Evangelho vemos Jesus como "Aquele que salvará seu povo de seus pecados" (MT. 1,21). É o próprio Jesus quem perdoa o paralítico e a pecadora.

* Jesus comunica seu poder de perdoar a seus Apóstolos. Assim como Deus Pai deu tudo a Jesus, assim também Jesus comunica à Igreja, esse poder de perdoar que Ele emanava para regenerar os homens. "Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhe-ão perdoados" afirma textualmente o Evangelho, (Jo 20, 23).

* A Igreja por meio de seus ministros em nome de Jesus outorga o perdão tal como fazia Jesus.

* Na Igreja primitiva, a Penitência se tornou uma tábua de salvação para o pecador batizado. Mas se propagou a prática de limitar o freqüente acesso ao sacramento para evitar abusos. São João Crisóstomo se via reprovado por seus adversários por outorgar sem descanso penitência e o perdão dos pecados aos fiéis que vinham arrependidos.

* No século III, o rigor de que falávamos dá lugar a excessos e heresia. Propaga-se a heresia de Montano, que pregava que o final do mundo estava próximo e dizia: "A Igreja pode perdoar os pecados, mas eu não o farei para que outros não pequem mais". Tertuliano e muitos outros se aderem ao "montanismo".

* Com grandes dificuldades, a Igreja superou esta heresia, esclarecendo o estatuto do penitente e a forma pública e solene em que devia desenvolver a disciplina sacramental da penitência.

* Depois que a Igreja impôs a penitência, os pecadores se constituíam em um grupo penitencial ou "ordem dos penitentes". Os pecados não se proclamavam em público, mas se era pública a entrada do grupo já que se fazia diante do bispo e dos fiéis.

* O "ordem dos penitentes" mantinha um longo tempo de renúncia ao mundo, semelhante ao dos monges mais austeros. Segundo a região, os penitentes levavam um hábito especial ou a cabeça raspada.

* O bispo fixava a medida da penitência. "a cada pecado corresponde sua penitência adequada, plena e justa". Fixavam-se as obrigações penitenciais por meio de concílios locais, ex. Elvira, na Espanha ou Arlés, na França. As obrigações penitenciais eram de tipo geral, litúrgicas e as estritamente penitenciais, como a vida mortificada, jejuns, esmolas e outras formas de virtude exterior.

* Na prática ocorria que as pessoas iam pospondo o tempo de penitência até a hora da morte, fazendo da penitência, um exercício de preparação para bem morrer, porque só podia ser exercitada uma vez.

* O processo penitencial equivalia a um verdadeiro estado de excomunhão. Até que o penitente não fora reconciliado, não podia aproximar-se da Eucaristia. O término do processo penitencial era a reconciliação com a Igreja, sinal da reconciliação com Deus.

* A partir do século V se realizava a reconciliação Na quinta-feira Santa, ao término de uma quaresma que, de por si, já é um exercício penitencial.

* O bispo acolhia e impunha as mãos aos penitentes, em sinal de bênção. A prece dos fiéis era o eco comunitário desta reconciliação.

* Enquanto, nas Ilhas Britânicas, especialmente na Irlanda, ia abrindo passo a um novo procedimento de reconciliação com penitência privada com um sacerdote e utilizando os famosos manuais de pecados (penitenciais), confeccionados por alguns Padres da Igreja, como Santo Agostinho ou Cesáreo de Arlés. Das Igrejas Celtas, esta forma de penitência se propaga pela Europa.

* Os manuais penitenciais estabeleciam a penitência segundo o pecado cometido e foram muito importantes para evitar o "barateamento do perdão" e o relaxamento do compromisso cristão. Ajudaram também a desmascarar as heresias dos séculos III ao VII. Delimitavam o que que é pecado grave, fruto da malícia e o que é pecado leve, cometido por debilidade ou imprudência.

* Renuncia-se ao princípio de outorgar a reconciliação uma só vez na vida.

Concílio de Trento reiterou a fé da Igreja: a confissão dos pecados diante dos sacerdotes, é necessária para os que caíram (gravemente) depois do Batismo.
A confissão íntegra, por parte do penitente, e a absolvição, por parte do sacerdote que preside o Sacramento e que faz de mediador do julgamento benévolo e regenerador de Deus sobre o pecador, vêm sendo as duas colunas da disciplina do Concílio de Trento até nossos dias, (Código de Direitos Canônicos, Cânon 960).

Exame de consciência


Precisamente por sermos pecadores, ficamos cegos diante de nossos pecados. Satanás quer nos fazer ver que não há mal no que fazemos. Então o coração se endurece, torna-se insensível às exigências do amor. Por isso é tão importante a conversão do coração.
"Por isso, como diz o Espírito Santo: "Se escutardes hoje MINHA voz, não endureceis o coração... Atenção irmãos! Que nenhum de vós tenhais um coração mau e incrédulo..." Hb 3.
Deus é um Pai amoroso que nos faz ver o pecado para nos dar a graça do arrependimento e nos perdoar. O nos quer livres. O demônio não quer que vejamos nosso pecado. Mas se procurarmos o caminho de Deus tratará de nos acusar com nossos pecados para que nós desanimemos e voltemos atrás. Podemos discernir então a diferença. Deus mostra o pecado para libertar e perdoar; o demônio o esconde mas quando o mostra é para que nos desesperemos. Devemos rejeitar energicamente estes pensamentos e ir à confissão com toda confiança no perdão de Deus. Deus SEMPRE perdoa quando há arrependimento.
É muito proveitoso fazer exame de consciência diário e também, com toda humildade, nos abrir a que pessoas próximas de nós nos corrijam. "Se examinássemos a nós mesmos, não seríamos condenados." (1 Cor. 11, 31)
O exame se faz diante de Deus, escutando sua voz na consciência.


Preparação para a confissão
Preparação remota: Educamo-nos na fé pelo estudo da Palavra, o Catecismo, leitura dos Santos, participação nos ensinamentos... A prática séria do que aprendemos. O exame diário de consciência.
Preparação imediata: O exame de consciência antes de confessar. Vamos a um lugar tranqüilo, preferivelmente diante do sacrário, para orar. Só Deus pode iluminar sobre nossa realidade e nos dar os meios para responder à graça.
Contemplamos a vida de Jesus e seu amor manifesto em Sua Cruz. "Contemplai ao que transpassaram" Jo 19:37. Como respondi a tanto amor, a tantas graças?. Examinamos nossa vida diante da lei de Deus. Por isso ajuda ter um exame escrito que nos recorde o que esquecemos. Recordamos que não se trata de sugestões, Deus nos deu MANDAMENTOS. Quebrá-los é quebrar nossa aliança com Deus e cair em pecado.
Não se trata tão somente de enumerar pecados mas sim de descobrir a atitude do coração e com DOR POR NOSSOS PECADOS, FAZER O FIRME PROPÓSITO DE NÃO VOLTAR A COMETÊ-LOS.
Sempre há áreas nas quais somos mais fracos e requerem atenção especial mas se compreendermos que Cristo -não a cultura- é a medida, veremos que em tudo temos muito que crescer.
A confissão só pode ser feita diante de um sacerdote.

Catequese de João Paulo II sobre o Sacramento da Reconciliação

1. O caminho para o Pai, motivo de reflexão neste ano de preparação ao grande Jubileu, implica também o redescobrimento do sacramento da Penitência em seu significado profundo de encontro com Ele, que perdoa mediante Cristo no Espírito (cf. Tertio Millennio Adveniente, 50).
São numerosos os motivos pelos que é urgente fazer uma séria reflexão na Igreja sobre este sacramento. Exige-o, acima de tudo, o anúncio do amor do Pai, como fundamento da vida e da ação do cristão, no contexto da sociedade atual, onde com freqüência se ofusca a visão ética da existência humana. Muitos perderam a dimensão do bem e do mal porque perderam o sentido de Deus, interpretando a culpa unicamente segundo perspectivas psicológicas ou sociológicas. Em segundo lugar, a pastoral deve dar um novo impulso a um itinerário de crescimento na fé, que sublinhe o valor do espírito e da prática penitencial em toda a vida cristã.

2. A mensagem bíblica apresenta esta dimensão "penitencial" como compromisso permanente de conversão. Fazer obras de penitência supõe uma transformação da consciência, que é fruto da graça de Deus. Sobretudo, no Novo Testamento, exige-se a conversão como decisão fundamental àqueles a quem se dirige a pregação do reino de Deus: "Convertei-vos e crede no Evangelho" (Mc 1,15; cf. MT 4,17). Com estas palavras Jesus inicia seu ministério, anuncia o cumprimento dos tempos e a iminência do reino. Este "convertei-vos" (em grego: "metanoéite") é um chamado a mudar de modo de pensar e de se comportar.

3. Este convite à conversão constitui a conclusão vital do anúncio feito pelos apóstolos depois de Pentecostes. Nele, o objeto do anúncio fica totalmente explícito: já não é genericamente o "reino", mas sim a obra mesma de Jesus, integrada no plano divino predito pelos profetas. Ao anúncio do que teve lugar com o Jesus Cristo morto, ressuscitado e vivo na glória do Pai, segue-lhe o premente convite à "conversão", a que está ligada o perdão dos pecados. Tudo isto aparece claramente no discurso que Pedro pronuncia no pórtico de Salomão: "Deus deu cumprimento deste modo ao que tinha anunciado por boca de todos os profetas: que seu Cristo padeceria. Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam apagados" (At 3,18-19). Este perdão dos pecados, no Antigo Testamento, foi prometido por Deus no contexto da "nova aliança", que Ele estabelecerá com seu povo (cf Jr 31,31-34). Deus escreverá a lei no coração. Nesta perspectiva, a conversão é um requisito da aliança definitiva com Deus e ao mesmo tempo uma atitude permanente daquele que, acolhendo as palavras do anúncio evangélico, passa a formar parte do reino de Deus em seu dinamismo histórico e escatológico.

4. O sacramento da Reconciliação transmite e torna visível de maneira misteriosa estes valores fundamentais anunciados pela Palavra de Deus. Reintegra o homem no contexto salvífico da aliança e os torna a abrir à vida trinitária, que é diálogo de graça, circulação de amor, dom e acolhida do Espírito Santo.
Uma releitura atenta do "Ordo Paenitentiae" ajudará muito a aprofundar, com motivo do Jubileu, nas dimensões essenciais deste sacramento. A maturidade da vida eclesiástica depende em grande parte de seu redescobrimento. O sacramento da Reconciliação, de fato, não se circunscreve ao momento litúrgico-celebrativo, mas sim leva a viver a atitude penitencia assim que dimensão permanente da experiência cristã. É "uma aproximação à santidade de Deus, um novo encontro com a própria verdade interior, turvada e transtornada pelo pecado, uma liberação no mais profundo de si mesmo e, com isso, uma recuperação da alegria perdida, a alegria de ser salvos, que a maioria dos homens de nosso tempo deixou de experimentar" ("Reconciliatio et paenitentia", 31,III).

5. Por isso se refere aos conteúdos doutrinais deste sacramento, remeto-me à exortação apostólica "Reconciliatio et paenitentia" (cf. nn.28-34) e ao "Catecismo da Igreja Católica" (cf. nn.1420-1484), assim como às demais intervenções do Magistério eclesiástico. Nestes momentos desejo recordar a importância da atenção pastoral necessária para valorar este sacramento no povo de Deus, para que o anúncio da reconciliação, o caminho de conversão e a mesma celebração do sacramento possam tocar ainda mais os corações dos homens e das mulheres de nosso tempo.

Em particular, desejo lembrar aos pastores que para ser bons confessores terão que ser autênticos penitentes. Os sacerdotes sabem que são depositários de uma potestade que vem do alto: de fato, o perdão que transmitem é "sinal eficaz da intervenção do Pai" ("Reconciliatio et paenitentia", 31,III) que faz ressuscitar da morte espiritual. Por isso, vivendo com humildade e simplicidade evangélica uma dimensão tão essencial de seu ministério, os confessores não devem descuidar sua própria perfeição e atualização em sua formação para que não desfaleçam nessas qualidades humanas e espirituais que são tão necessárias para a relação com as consciências.

Mas, junto aos pastores, toda a comunidade cristã deve ficar envolvida na renovação pastoral da Reconciliação. Isto o impõe o caráter eclesiástico próprio do sacramento. A comunidade eclesiástica é o seio que acolhe ao pecador arrependido e perdoado e, antes ainda, cria o ambiente adaptado para o caminho de volta ao Pai. Em uma comunidade reconciliada e reconcialiante os pecadores podem voltar a encontrar o caminho perdido e a ajuda dos irmãos. E, por último, através da comunidade cristã pode voltar para traçar um sólido caminho de caridade, que faça visível através das boas obras o perdão recebido, o mal reparado, a esperança de poder encontrar ainda os braços misericordiosos do Pai.

João Paulo II

Vaticano, 15 setembro de 1999

Parábolas de conversão e perdão

- O fariseu e o publicano (reconhecer nosso pecado) Lc.19, 10-14
- Os dois filhos (conversão) Mt.21, 28-31
- A figueira estéril (um Deu paciente e premiante) Lc.13,6-9
- Os dois devedores (amor com amor se paga) Lc.7, 36-50
- O servo sem coração (perdão com perdão se paga) Mt.18, 23-35
- A ovelha desgarrada (Iniciativa amorosa do Pai) Lc.15, 4-7
- O Filho pródigo (Voltar ao Pai misericordioso) Lc.15, 11-32

continua...

Fonte: http://www.acidigital.com/

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