domingo, 6 de junho de 2010

SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI - Ano C - 03 de Junho de 2010

Raphaello Sanzio

Ele caminha no meio do povo

1. O sentido da celebração

Na quinta-feira, após a solenidade da Santíssima Trindade, a Igreja celebra devotamente a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, festa comumente chamada de Corpus Christi. A motivação litúrgica para tal festa é, indubitavelmente, o louvor merecido à Eucaristia, fonte de vida da Igreja. Desde o princípio de sua história, a Igreja devota à Eucaristia um zelo especial, pois reconhece neste sinal sacramental o próprio Jesus, que continua presente, vivo e atuante em meio às comunidades cristãs. Celebrar Corpus Christi significa fazer memória solene da entrega que Jesus fez de sua própria carne e sangue, para a vida da Igreja, e comprometer-nos com a missão de levar esta Boa Nova para todas as pessoas.

Poderíamos perguntar se na Quinta-Feira Santa a Igreja já não faz esta memória da Eucaristia. Claro que sim! Mas na solenidade de Corpus Christi estão presentes outros fatores que justificam sua existência no calendário litúrgico anual. Em primeiro lugar, no tríduo pascal não é possível uma celebração festiva e alegre da Eucaristia. Em segundo lugar, a festa de Corpus Christi quer ser uma manifestação pública de fé na Eucaristia. Por isso o costume geral de fazer a procissão pelas ruas da cidade. Enfim, na solenidade de Corpus Christi, além da dimensão litúrgica, está presente o dado afetivo da devoção eucarística. O Povo de Deus encontra nesta data a possibilidade de manifestar seus sentimentos diante do Cristo que caminha no meio do Povo.

2. Origem da solenidade

Na origem da festa de Corpus Christi estão presentes dados de diversas significações. Na Idade Média, o costume que invadiu a liturgia católica de celebrar a missa com as costas voltadas para o povo, foi criando certo mistério em torno da Ceia Eucarística. Todos queriam saber o que acontecia no altar, entre o padre e a hóstia. Para evitar interpretações de ordem mágica e sobrenatural da liturgia, a Igreja foi introduzindo o costume de elevar as partículas consagradas para que os fiéis pudessem olhá-la. Este gesto foi testemunhado pela primeira vez em Paris, no ano de 1200.

Fr. Evaldo César de Sousa, C.Ss.R.
Fonte: www.redemptor.com.br/default2.asp?pg=sys/nucleo&canal=282&cat_cod=513
Sagrada Escritura:
Primeira: Gen 14, 18-20

Leitura do Livro do Gênesis

Naqueles dias,

18Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho

e como sacerdote do Deus Altíssimo,

19abençoou Abrão, dizendo:

“Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo,

criador do céu e da terra!

20Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou

teus inimigos em tuas mãos!”

E Abrão entregou-lhe o dízimo de tudo.

Salmo 109

Tu és sacerdote eternamente segundo a ordem do rei Melquisedec!

1. Palavra do Senhor ao meu Senhor: * “Assenta-te ao lado meu direito * até que eu ponha os inimigos teus * como escabelo por debaixo de teus pés!”

2. O Senhor estenderá desde Sião * vosso cetro de poder, pois Ele diz: * “Domina com vigor teus inimigos; * domina com vigor teus inimigos!”

3. Tu és príncipe desde o dia em que nasceste; * na glória e esplendor da santidade, * como o orvalho, antes da aurora, eu te gerei! * Jurou o Senhor e manterá sua palavra: * Tu és sacerdote eternamente, * segundo a ordem do rei Melquisedec!


Segunda Leitura I Cor 11, 23-26

Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios.

Irmãos: 23o que eu recebi do Senhor

foi isso que eu vos transmiti:

Na noite em que foi entregue,

o Senhor Jesus tomou o pão

24e, depois de dar graças, partiu-o e disse:

“Isto é o meu corpo

que é dado por vós.

Fazei isto em minha memória”.

25Do mesmo modo, depois da ceia,

tomou também o cálice e disse:

“Este cálice é a nova aliança, em meu sangue.

Todas as vezes que dele beberdes,

fazei isto em minha memória”.

26Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão

e beberdes deste cálice,

estareis proclamando a morte do Senhor,

até que ele venha.

Evangelho: Lc 9, 11b-17

Naquele tempo,

11Jesus acolheu as multidões,

falava-lhes sobre o reino de Deus

e curava todos os que precisavam.

12A tarde vinha chegando.

Os doze apóstolos aproximaram-se de Jesus

e disseram:

“Despede a multidão,

para que possa ir aos povoados e campos vizinhos

procurar hospedagem e comida,

pois estamos num lugar deserto”.

13Mas Jesus disse:

“Dai-lhes vós mesmos de comer”.

Eles responderam:

“Só temos cinco pães e dois peixes.

A não ser que fôssemos comprar comida

para toda essa gente”.

14Estavam ali mais ou menos cinco mil homens.

Mas Jesus disse aos discípulos:

“Mandai o povo sentar-se em grupos de cinqüenta”.

15Os discípulos assim fizeram, e todos se sentaram.

16Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes,

elevou os olhos para o céu, abençoou-os, partiu-os

e os deu aos discípulos para distribuí-los à multidão.

17Todos comeram e ficaram satisfeitos.

E ainda foram recolhidos doze cestos

dos pedaços que sobraram.

Nexo entre as leituras

É extremamente consolador saber que o próprio Deus vem ao encontro das nossas misérias, e nos cuida e alimenta no meio das dificuldades da vida! Esta é a idéia que podemos tirar da meditação da liturgia da solenidade de Corpus Christi. A primeira leitura mostra o Rei-sacerdote de Salém (Jerusalém), Melquisedeque, oferecendo pão e vinho e abençoando Abrão. Este misterioso personagem é figura, segundo o salmo 110, do rei Davi, que, por sua vez, é figura do Messias. No evangelho, é o próprio Jesus, o verdadeiro Messias, quem oferece alimento aos homens. É quase uma prefiguração do banquete messiânico dos últimos tempos. Jesus vem para libertar o seu povo, mas não com uma libertação política ou militar, como muitos pensavam, e sim através do seu sacrifício e da conversão dos corações. Jesus oferece o pão da vida que é o seu corpo e seu sangue, como solenemente testemunha Paulo na segunda leitura. Nisto há um amor muito grande.

Mensagem Doutrinal

1. Senhor prepara um banquete. Sabemos que a imagem do banquete tem um profundo significado na Bíblia. É sinal dos últimos tempos e da alegria e festa do fim deste mundo. O evangelho de hoje nos apresenta um banquete muito particular. A multidão seguiu Jesus até um lugar deserto, sem levar provisões. Foi então que o dia começou a declinar, e Deus repetiu os prodígios e as façanhas que fizera outrora a favor de Israel. No meio da noite do mundo, brilha uma realidade maravilhosa: Cristo, o Verbo encarnado, está no meio de nós e nos oferece o alimento necessário para o caminho. Ele nos guia e alimenta.
A passagem da multiplicação dos pães revela o amor de Cristo e a sua atitude para com os homens. O Senhor pede que o sigamos, e nos convida ao desapego das seguranças humanas. Aqueles homens estavam no meio do deserto, sem apoio humano algum, sentindo que o dia declinava e que, logo, muito rapidamente, a noite chegaria. Quem nunca sentiu algo parecido na vida? Quem nunca experimentou a proximidade da noite, a experiência da insegurança das coisas humanas? É nestes momentos que Cristo se faz presente para nos oferecer o pão vivo, ou seja, para nos dar seu próprio Corpo oferecido em sacrifício. Graças a este sacrifício sabemos que temos a reconciliação com o Pai e que pertencemos à família de Deus. É este alimento espiritual que nos sustenta no meio das vicissitudes da vida, no meio da aparente noite que cai sobre o mundo. Cristo eucarístico é o grande amigo que sempre está conosco e nos propõe novamente o seu amor incondicional. A experiência nos demonstra que, no meio das grandes penas, o que sustenta a fé daqueles que sofrem é a Eucaristia. É a possibilidade de participar do sacrifício de Cristo e de se alimentar da Sagrada Comunhão. Foi assim que sacerdotes como Titus Brandsma e Karl Leisner permaneceram fiéis nos campos de concentração durante a II Guerra Mundial. 2. A fé eucarística. Nossa fé na Eucaristia pressupõe três pontos principais: em primeiro lugar acreditar na presença real de Cristo no sacramento. Na verdade, Cristo está real e substancialmente presente na Eucaristia. Esta verdade é imensamente consoladora. O próprio Deus, encarnado, feito Eucaristia, está no tabernáculo para nos acompanhar no nosso humano caminhar. O cristão deve continuamente avivar a fé neste grande mistério. Portanto, é útil e conveniente venerar este sacramento com procissões, horas eucarísticas, adorações noturnas, visitas espontâneas... Nelas se experimenta o amor que Deus tem pelos homens e se recebe a energia necessária para viver como cristãos. Em segundo lugar, a fé nos convida a afirmar o caráter sacrifical da missa. Quer dizer, a missa é um verdadeiro sacrifício. É a antecipação sacramental do cruel sacrifício da cruz. Por isto, cada vez que celebramos a Eucaristia, atualizamos este sacrifício e oferecemos um louvor apropriado a Deus. Quando participamos da Eucaristia sabendo que é um verdadeiro sacrifício, notamos toda a sua grandeza, recebemos todos os seus frutos e temos a oportunidade de unir os nossos sacrifícios ao sacrifício de Cristo. Em terceiro lugar, a fé eucarística nos conduz à prática de uma comunhão freqüente e, se possível, diária. A Eucaristia é alimento para o caminho. O caminho da vida humana e da vida cristã é um caminho superior às nossas forças, e ninguém pode perseverar no bem, longe do pecado, sem a ajuda divina que vem do alto.

Sugestões Pastorais


1. Formação eucarística. É missão da mãe de família começar a formação eucarística dos filhos. Se, desde pequenos, os filhos se habituam a tratar Jesus com familiaridade e respeito, se sentem Jesus presente e sabem que Ele é o próprio Deus, começam um caminho de "vida eucarística", ou seja, encontraram na Eucaristia aquele amor divino que é necessário para caminhar com segurança pela vida. Os pais podem e devem educar os filhos nesta vida eucarística. Podem fazer isso com sua palavra e com seu exemplo. Se as suas palavras nascem de uma verdadeira contemplação eucarística, elas serão carregadas de força e de eficácia. Atingirá o coração dos filhos. Por outro lado, o exemplo confirmará as palavras. Será o exemplo na participação da missa dominical ou na recepção freqüente dos sacramento da Penitência e da Eucaristia, ou na simplicidade de uma visita ao Santíssimo. Estas coisas ficam profundamente gravadas na mente e no coração das crianças e dos jovens. Nada incentiva tanto a vida eucarística quanto ver o próprio pai ou mãe fazendo isto com fervor singular.


2. A comunhão e a confissão freqüentes. A vida cristã se alimenta dos sacramentos. Eles nos dão a graça para viver como devemos, para assumirmos as nossas responsabilidades e deveres. A confissão freqüente nos ajuda a purificar a alma, aumenta a delicadeza de consciência, previne novas quedas, aumenta o conhecimento próprio e a humildade. Hoje em dia corremos o perigo de comungar sem estar devidamente preparados, só porque é um casamento ou uma primeira comunhão. É importante favorecer a comunhão, mas, ao mesmo tempo, convidar todas as pessoas a se aproximar dela devidamente preparadas. Se abandonamos a confissão, pouco a pouco perdemos a delicadeza de consciência e a fidelidade à verdade. Convidemos todos a uma confissão freqüente como a melhor preparação para uma vida eucarística plena.


Fonte: es.catholic.net/sacerdotes/558/1352/articulo.php?id=17927

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